Relacionamentos nos inspiram. Amizades, trabalhos, casamentos, namoros estão entre as nossas infinitas formas de estarmos com os outros. A noção clássica de relação (relação de objeto) é reformulada por Lacan. Não se trata da harmonia entre dois seres plenos, mas de uma dinâmica perfeitamente fundada na falta, na incompletude na qual, cada sujeito, marcado por uma carência primordial assume, para si, a promessa de restaurar a unidade perdida.
Na busca incessante pelo amor e pelo preenchimento, os relacionamentos humanos são um dos principais campos de investimento libidinal e, simultaneamente, de angústia e sofrimento. A psicanálise lacaniana, longe de ofertar a solução na busca da felicidade nas relações humanas, escuta a estrutura intrincada e paradoxal que fundamenta o nosso laço com o Outro. Ela nos convida a uma aproximação sutil e pungente daquilo que, em nós, nos faz atrair pelo outro, repetindo antigas fórmulas de laço. Tais fórmula aparecem muitas vezes nas clínicas por meio de frases ditas como “surpresa” ou “coincidência”: “de novo me fizeram passar por isso”, “dessa vez tinha esperança de que fosse diferente, mas novamente me acontece isso” e assim, repetimos posições nos relacionamentos na busca de uma completude final.
Todavia, os nossos relacionamentos funcionam e operam sempre sobre uma cena fantasmática, um cenário inconsciente que, aos moldes de uma bússola, usamos para irmos a certas pessoas e não a outras. Nessa busca constante por encontrar-se no outro, esquecemos de nos perguntar sobre nós mesmos: nossos desejos, nossas vontades e, sobretudo, sobre a falta que nos preenche. A análise lacaniana é, então, esse espaço de pôr a relações que temos com os nossos relacionamentos sobre a mesa, tornando-a um objeto de estranhamento a partir do qual olhamos os seus sentidos e complexidades. Não é o lugar do encontro final do amor romântico, mas o momento de construir uma forma de amar complexa, densa e constantemente desafiadora.

